Fazer de conta que as coisas vão bem… Quem nunca?! Até parece que, fingir, torna o cenário menos caótico e mais colorido. Só parece porque a vida continua sendo concreta e visceralmente real. Reconhecer o peso dessa concretude pode ser um passo a mais rumo à liberdade. Mas isso tem seu preço: enxergar e ser enxergado.

Maquiar a realidade é uma opção para viver? Sim. Só que não soluciona nada dos dilemas que insistem em brotar no caminho de cada um. Maquiagem disfarça mas o poro aberto e inflamado da vida continua lá.

Numa situação em que viver a vida de cada dia esteja sendo um exercício frustrante e sofrido, ter amigos pode ser um toque de frescor e alívio. Eu disse: amigos. Ou seja, aqueles humanos que realmente têm a intenção de enxergar a gente além do que nós temos sido e feito.

Amigos são como caçadores. Eles perseguem um alvo: fazer companhia ao nosso coração. Enfiam na cabeça que nos querem bem e não sossegam até confirmarem que o bem nos alcançou. O tal do amigo é ser estranho. Costuma lembrar quem somos mais do que nós mesmos. Quando estamos prestes a esquecer quem somos e quanto valemos, eles nos lembram como portadores de lucidez rara em momentos de instabilidade e crise.

Uma das habilidades que gente amiga tem é a de não se confundir com os artefatos que lançamos mão para conservar o engano sobre nós mesmos. Há ocasiões que estar enganado a nosso próprio respeito parece ser a única verdade que possuímos. Amigos podem ser aqueles que não se deixam seduzir pelas nossas performances que nada mais são que táticas de fuga. Amigos – de verdade – não fogem de nós. Eles nos estimulam ao autoconfronto mas não toleram nossa automutilação. Encaram nossa nudez e nos cobrem.

Amigos fazem falta na vida de quem precisa de salvação e amadurecimento. Ter Deus como amigo nos salva e ter amizade de pessoas nos aprimora. Meu desejo é que tenhamos ambas. Deixar de ser inimigo de Deus é, sem dívida, a maior dádiva possível. Em seguida, ter relacionamentos de amizade com outros humanos pode ser uma escola humanizadora. Que 2021 seja um marco para o rompimento com a acomodação na falta de vínculo.