Olhando a foto, você não diz que esse mar quase engoliu uma adolescente nas últimas horas. O dia estava lindo e talvez por causa das ondas fortes, a praia se encontrasse praticamente deserta. Era um casal tomando sol aqui, meia dúzia de rapazes jogando bola ali e uma mulher com três sobrinhos. A sobrinha resolve entrar no mar e subitamente, por lá faltou pouco para não ficar para sempre.

Antes do drama ter início, lembro de estar olhando para o mar tão lindo e me perguntar como seria se alguém se afogasse ali, já que a praia era semideserta e não tinha socorrista por perto. Foi pensar e o incidente se desencadeia. O que parecia ser uma pessoa na água fazendo graça para os familiares na areia se configura, na verdade, como o acenar desesperado de alguém sendo tragado pelas águas. Inicialmente, não tinha aparência mas era um afogamento. As ondas estavam fazendo um baile furioso com o corpo leve e apavorado da menina.

A cena era toda inesperada de se ver, claro. Até então, tudo parecia tão tranquilo e “previsível”, felizmente, tinha alguém atento. Ela foi notada! Alguém a observou na água e perguntou para a tia: “Ela está bem?”. Antes da mulher responder, o homem viu que não e num ato de bravura, encheu o peito de ar e se lançou mar a dentro atrás da menina. O mar não se deixou intimidar por essa valentia e mostrava sua força com ondas impiedosas. De fora, dava pra ver que nem um, nem outro conseguiam mais sair. Tragédia praticamente instalada, a tia e os dois sobrinhos inertes diante do episódio chocante, o homem sem chão e fôlego e a menina se debatendo, procurando no pescoço dele, um meio para sua salvação.

Em meio aos pedidos por socorro, mais atos de bravura se apresentam. Um rapaz – aquele que ninguém no bairro acha que tem “cara de bom moço” – vê a situação e sem titubear, vai mar a dentro ajudar. A menina, em total pânico, se apoia neles a todo custo – o que os impede de saírem do lugar e tirá-la de lá. Vendo esse redemoinho assombroso, surge um terceiro, que deixa os amigos pra trás, pega uma prancha de alguém e também vai em direção ao grupo já sem força alguma para sair. Deu certo! Minutos de profunda angústia chegam ao fim quando todos chegam à terra firme e voltam a respirar e retomar a vida. Concorrendo com a água salgada, o interior de cada um agora se enche de gratidão e alegria.

Tudo isso me deixou muito reflexiva e não quis deixar de registrar o que aprendi. A vontade que me veio foi de agradecimento a Deus por muitas coisas, em especial pela coragem! Ah, a coragem! O que seria de cada um de nós sem atos de bravura por parte de alguém que nos vê no meio do mar da vida – ora sereno, ora revolto? É lindo constatar que o mundo – apesar das suas mazelas – é ocupado por pessoas que, em algum momento, enxergam umas às outras. E mais, dependendo do que veem, são movidas por puro altruísmo a ponto de enfrentarem a morte por causa de alguém.

Pessoas assim, que constatam que algo não vai bem, acionam o senso de praticidade e se fazem uma só pergunta: o que está a meu alcance fazer por você agora, enquanto dá tempo? Isso me faz crer que atos heroicos são atitudes de inconformidade à invisibilidade e letargia. A invisibilidade impede que pessoas sejam, de fato, enxergadas dentro das suas reais necessidades. A letargia destrói a chance de decisões proativas serem tomadas. Ambas configuram o que podemos chamar de fatalismo – quer dizer, ainda que seja imprescindível agir, não me movo.

O mundo precisa de pessoas com coragem! A coragem tem sua origem em Deus – bom, nunca vi ninguém mais corajoso que Jesus! – e por isso, faz muita falta quando não se manifesta na vida. Curiosamente, corajosos podem ser gente “comum”, que talvez passe ao nosso lado todo dia e nem sequer seja notada. Isso significa que, mesmo cercados por um mar de gente, pode ser que próximo estejam alguns que se permitam ver o outro com honra a ponto de abrirem mão da autocentrada sensação de estabilidade e agirem conforme a necessidade.

“Não fui eu que ordenei a você? Seja forte e corajoso! Não se apavore nem desanime, pois o Senhor, o seu Deus, estará com você por onde você andar” (‭‭Josué‬ ‭1:9‬).

Coragem gera mobilidade! Ela derrete o gelo da indiferença e apatia do coração e faz brotar a esperança. A vida humana é melhor quando há atos de coragem ao redor, não é?! Na dúvida, pergunte para a menina…