“Racismo e justiça à luz da Bíblia” é um daqueles livros de leitura obrigatória! Tim Keller tem algo a nos ensinar sobre o que as Escrituras apontam sobre o Evangelho e a questão racial. Aborda a temática de forma humilde e ao mesmo tempo, corajosa. Faz críticas contundentes à alienação que gera violência e o faz poderosamente porque utiliza o ensino assertivo da Palavra de Deus. No decorrer das páginas, é possível observar o cuidado cirúrgico do autor ao afirmar os pressupostos bíblicos e sua aplicabilidade nas esferas individual e corporativa.

“Dentro da igreja, as raças não devem apenas “se dar bem”, mas devem se tornar uma nova humanidade na qual as velhas divisões não mais prevalecem. A igreja é uma ‘nação real’, uma nova sociedade na qual a vida familiar, as práticas comerciais, as relações raciais e as relações interpessoais são transformadas. Somos uma planta piloto do futuro reino de Deus, um lugar para que o mundo tenha um vislumbre parcial de como será a humanidade sob o reinado e a justiça de Jesus.” (p.95)

Não tenha medo de ler o livro! Aprender com os ensinamentos nele contidos pode nos melhorar e a história será beneficiada por isso, para a glória de Deus.

-ANDRÉA VARGAS

Timothy Keller escreveu o livro “Racismo e justiça à luz da Bíblia” e disponibilizou gratuitamente na internet com a intenção de que mais pessoas dialoguem sobre o racismo. Essa temática tem sido recorrente nos meios de comunicação, embora o racismo sempre existir na nossa sociedade e também nas igrejas.

A seguir temos duas convidadas, Flora e Namhla, que abordam com clareza sobre O RACISMO E A IGREJA.

Natural de Angola, Flora Ngunga é Professora de Inglês na Thoughtworks, é integrante do Projeto Agostinhas. Tem se dedicado a estudar RACISMO como uma cosmovisão. Escreve:

Quando me perguntam porque o cristão deveria pensar e se envolver em questões como luta contra o racismo, me vem, primeiramente, à mente, um diálogo presente no livro de Ester.

Neste diálogo, Mordecai faz um pedido a sua prima Ester, a qual se tornou rainha do reino de Assuero. Podemos, inclusive, dizer que Mordecai estava fazendo a seguinte pergunta: será que você poderia, por favor, se envolver na luta contra o racismo? Isso mesmo! A questão em pauta envolvia racismo. Racismo contra os judeus. Hamã, um grande conselheiro do rei Assuero, era intolerante aos judeus; ele desenvolveu um ódio contra eles. Mordecai levanta a mesma pergunta que eu quero responder neste texto: por que Ester deveria pensar e se envolver em questões como a luta contra o racismo (de Hamã)?

Primeiramente, é necessário perguntar aos cristãos três perguntas. “Existe algo quebrado no mundo?” Se a resposta for sim, podemos continuar e pularmos para a segunda pergunta: “O racismo faz parte dessa quebra?” Se a resposta for sim, finalizamos com a última pergunta: “Será que DEUS tem algo a dizer sobre o racismo?”.

Creio que esta última seja uma pergunta retórica para os cristãos. Por quê? A frase proferida pelo teólogo Abraham Kuyper, “Não há um único centímetro quadrado em todos os domínios da existência humana sobre o qual Cristo, que é soberano sobre tudo, não clame: é meu!”, ilustra com perfeição o que quero dizer.

Embora o mundo esteja quebrado, manchado, ele ainda pertence ao Deus criador. E este criador está trabalhando, e o seu trabalho não é em vão. O Deus Soberano tem ciência não somente sobre a quantidade dos fios de cabelo da cabeça de um ser humano, como é dito em Lucas 12:7, mas, também, de qualquer coisa embaixo e acima dos céus.

Deus está escrevendo uma história com timeline já estabelecida. E a boa notícia é, o fim dessa história é sublime! A história de uma longa jornada de redenção para restaurar os perdidos e o mundo já começou. E onde é que o racismo entra nessa história? Bem, se dividirmos a história do mundo em Criação – Queda – Redenção – Consumação, localizaremos o início da história do racismo no mundo. O racismo não se inicia com as pseudociências racistas, com as leis nazistas e tão pouco com o tráfico negreiro. O racismo tem sua fonte direta na queda. Ou seja, o mundo está quebrado em vários departamentos e essa quebra é uma consequência da queda. A rebelião humana fez com que o homem optasse por um parâmetro autônomo em relação a Deus. A morte espiritual afetou tudo!

Tendo dito isso, é preciso questionar. Se você entende que existe uma quebra, você quer fazer parte dessa restauração? Caso não, não vejo motivo para continuarmos a conversa.

Hoje enfrentamos discussões inflamadas, onde pessoas se digladiam umas com as outras para definir quem está certo e quem está errado.

Meu objetivo aqui não é dizer que estou certa. Eu quero estabelecer diálogo com aqueles que reconhecem que existem rupturas, quebras e manchas no mundo; quero dialogar com aqueles que, ao reconhecer isso, também reconhecem que Deus não nos abandonou neste mundo quebrado, e está ativamente trabalhando nesta longa jornada de redenção.

Quando Mordecai pede que Ester entre no palácio para interceder em favor dos judeus, Ester, primeiramente, recua. Seu primeiro pensamento é com relação à própria segurança.

Tiago Cavaco, em seu livro Seis sermões contra a preguiça afirma que “ Não é apenas alguma coisa que não se fez, mas alguma coisa que, ao não ser feita, se tornou algo feito contra Deus. Porque quem não faz o que é bom, mesmo sem uma intenção negativa formada na sua consciência, ativamente acaba fazendo o que é mau.”

Deus criou um mundo holístico. Tudo se conecta. Como disse Martin Luther King Jr “Quem passivamente aceita o mal está tão envolvido nele quanto quem o ajuda a praticar. Aquele que não protesta contra o mal, na verdade, coopera com ele.”

Se Ester escolhesse não fazer nada, ela não estaria em um estado neutro, ela estaria produzindo algo. E o pior, se o resultado dessa recusa dela fosse negativo, ela também sofreria as consequências. No caso de uma doença corporal, se o pé morre, se a mão não tiver compaixão de limpar as feridas, ele sofrerá a mesma enfermidade. Pois o mal que se espalhará da outra parte atingirá esta parte também.

O racismo é um fato. É uma realidade social. Este fato dividiu o mundo. Infelizmente, muitos cristãos parecem não ter força e vontade sequer para começar a construir uma ponte que una um lado ao outro. Eventos pecaminosos do passado geraram sofrimento, e nos afastaram de Apocalipse 7:9: “eis aqui uma multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, que estavam diante do trono, e perante o Cordeiro, trajando vestes brancas e com palmas nas suas mãos”.

Se a diversidade é algo valorizado por Deus na eternidade, se as diferenças raciais e culturais importam e ainda estão presentes na redenção final, temos aqui um imperativo para nós. Devemos, intencionalmente, perseguir essa diversidade.

O racismo criou animosidade entre as nações, indivíduos, e também, criou injustiças raciais e desigualdades. Tim Keller, em seu livro Racismo e Justiça à luz da bíblia, afirma “ Fora da igreja, os cristãos devem trabalhar contra a injustiça racial e a desigualdade, e muitas são as possibilidades em relação a isso. Trabalhar pela igualdade educacional e por uma reforma do sistema de justiça criminal parece, para mim, estar na linha de frente da batalha.” Ou seja, muitas são as possibilidades nas quais podemos nos engajar no combate ao racismo. No caso de Ester, ela precisaria entrar no pátio interno para falar com o rei. Fica a pergunta: quais pátios teremos que entrar para advogar por justiça e reconciliação racial? A história de Ester não termina com uma pessoa apática, sossegada e egoísta. No final, Ester foi ter com rei, ela ajudou a salvar a vida dos judeus das mãos de Hamã. A pergunta feita por Mordecai: “E quem sabe se não foi para um momento como este que você chegou à posição de rainha?” acendeu a ideia de que Deus poderia ter plantado Ester naquele contexto para grandes propósitos. Deus pode ter colocado você na sua família, nesse país, nesse emprego, com esses dons, de forma muito intencional. Quantos pátios internos você precisa entrar para reivindicar a Imago Dei do seu próximo, para reivindicar justiça, para salvar você e o seu próximo?

Que a Igreja de Deus assuma o posicionamento de um termostato e abandone a postura de um termômetro. Não é sobre registrar o que acontece no mundo, mas, sim, sobre ser um agente de transformação. Nossos esforços em prol da justiça e da reconciliação racial podem vir a ser o maior testemunho da igreja sobre o poder do evangelho no século XXI.

“Os teus filhos edificarão as antigas ruínas; levantarás os fundamentos de muitas gerações e serás chamado reparador de brechas e restaurador de veredas para que o país se torne habitável.” -Isaías 58: 12

-FLORA NGUNGA

Namhla Godlo, Sul africana, morou no Brasil por 3 anos. É diretora de produção da Spotlight PR & Productions, Co apresentadora do podcast “The worlds apart podcast” e Integrante de uma missão universitária desde 2011. Escreve:

Os crimes e feridas do racismo, especialmente para com a comunidade negra, corre ao longo da história da humanidade e corta tão profundamente no coração de muitas pessoas negras que as atinge no nível da identidade. O racismo e a opressão de pessoas negras têm ocorrido em escala global (EUA, África do Sul, Brasil, etc.) e frequentemente pelas mãos daqueles que se chamam Cristãos que, para a igreja de hoje ignorar o seu impacto, significaria ignorar uma enorme pedra de tropeço para o entendimento de Cristo e do Evangelho. Ao ignorar essa conversa, a igreja corre o risco de afastar pessoas de Cristo e da igreja, ao invés de aproximá-las dele. Respostas superficiais como “Eu não vejo cor” ou sugestões de que o Evangelho não fala sobre esse assunto, oferecem um “evangelho” raso e diminuído, considerando que essa questão tanto entristece a Deus, quanto o próprio Jesus pagou com seu sangue, na cruz, por ela. Nós, como igreja, não podemos nos afastar dessa discussão, porque a graça de Deus é profunda o suficiente para andar através do vale do racismo e da opressão, e para trazer cura e restauração em Cristo.

– NAMHLA GODLO

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